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Barreto: "Não sou Charlie nem Chéfif nem Said"

O cineasta Luiz Carlos Barreto acredita que os cartunistas do Charlie Hebdo ultrapassaram o limite aceitável da liberdade de expressão. Diz que o Brasil pode servir de exemplo de democracia racial. Leia:

Não podemos transformar a liberdade de expressão em dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e podem gerar posições extremistas
Podemos pôr em risco a segurança e a vida de outras pessoas em nome da liberdade de expressão e do livre pensar? A liberdade de opinião e o direito de expressá-la são uma conquista social, não apenas um direito individual para servir aos interesses e ao narcisismo de pessoas ou de grupos. Portanto o livre exercício do direito de opinar, criticar, caricaturar e denunciar exige reflexão, responsabilidade e ética.

Os talentosos desenhistas e chargistas do jornal satírico "Charlie Hebdo" mergulharam fundo naquilo que abraçaram como missão: criticar, caricaturar e satirizar os poderes político, econômico, religioso e social. Como os mergulhadores que ultrapassam os limites, foram tomados pelo delírio das profundezas. Desafiaram a minoria extremista e fanática do islamismo.


A sátira focando personagens e situações do cotidiano francês e internacional tornou-se a marca do sucesso do "Charlie Hebdo". Mas o sucesso sempre tem bônus e ônus.


Algumas "vítimas" do "Charlie", entre elas líderes políticos, religiosos e celebridades, reagiram com processos judiciais e ameaças. A Redação do semanário chegou a sofrer um incêndio criminoso em 2011.


Mesmo diante dessa situação ameaçadora, a turma do "Charlie" não baixou o nível do seu poder de fogo satírico, em uma demonstração de uma coragem suicida, como definiu o ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin, em artigo no "Le Monde" em 8 de janeiro.


Agora os dados estão sobre a mesa: o Estado, o governo, o povo francês e até a União Europeia estão na incômoda e obrigatória situação de responder a um ato de barbárie causado pela irrefletida troca da sátira pelo insulto e pelo desrespeito à fé e à crença de grupos minoritários de radicais fanáticos, que fazem uma leitura errada do Alcorão.


Neste momento, passada a comoção que o episódio trágico nos causou, chegou a hora da reflexão e da discussão sobre o tema da liberdade de expressão, questão basilar para o Estado democrático de Direito.


Não podemos transformar a liberdade de expressão em um dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e geram autoritarismo e posições extremistas. Aliás, na Europa e nos EUA, essa discussão está em curso, e seria muito saudável que nós, brasileiros, iniciássemos essa reflexão que tanto nos faz falta.


Outras reflexões mais profundas devem ser feitas e a mais transcendente de todas diz respeito à forma de convivência entre as culturas ocidental e oriental. São duas estruturas de pensamento, hábito, costumes, idiomas, religiosidade, crenças e sistemas políticos. São concepções e estilos de vida diferentes e que começaram a se revelar um para o outro, com o auxílio dos meios de comunicação de massa.


É preciso que nós, ocidentais, façamos uma revisão dos nossos conceitos e do nosso modo de relacionamento com os povos da banda oriental do planeta. Vamos nos despir da roupagem de colonizadores que sempre se relacionaram pela dominação, pelo subjugo e humilhação dos povos colonizados.


O Brasil tem muito a contribuir com seu exemplo de democracia racial, que foi muito além da mestiçagem, produzindo um amálgama que, no dizer de Darcy Ribeiro, vai resultar em um novo modelo civilizatório para a humanidade.


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